Thursday, August 30, 2007


IMPROMPTU*

Desde há meses tenho vagueado
sem sentido. Sem destino ou fim.
Um doce e mortal raio de Sol
tortura-me e cega, noite e dia.

De onde vêm estas visitas?
Alguém caminha sobre a água
estonteante, jovem,
desliza através da escuridão abrupta.

O sorriso dela eleva-se em direcção à costa.
Na distância, algumas velas flamejam.
O calor vertical do meio-dia é um chuveiro,
limpando o lixo deixado nas poças do banho.

Detalhes e trivialidades.
Uma única flor no vento, suave,
revira-se uma e outra vez como os dedos
de um bebé, mudo e deslumbrado.

E as melodias. Através de todas as salas
a mesma inundação de melodias,
como se o mar descalço rumorejasse
entre as suas paredes.

Mas mais belos do que tudo isso - os amantes!
As cabeleiras luminosas entre os restos.
A última, a belíssima tenda da sua modéstia.

Os amantes. E o crepúsculo.
As filas de casas afundando-se na escuridão.
E sobre as casas, na areia,
uma torre maciça e grave.

Quem poderia ter sonhado algo tão triste.

*Do poeta húngaro János Pilinszky
tradução minha do inglês e dedicada ao Luís Naves e ao Pedro Mexia

3 comments:

Anonymous said...

É a aproximação do Outono que lhe inspira esta melancolia?
Boa viagem até Barcelona,João!

CPrice said...

"offhand" .. ;) and .. happy week-end *

L. Rodrigues said...

Não sai lava....